terça-feira, 11 de setembro de 2007

UM NOVO; post antigo!

Domingo encontrei aqui em casa um livro que me fez lembrar de um post antigo, devidamente retirado de um blog já morto, mas que ao que tudo indica ainda ressurge do limbo, ou em pequenas seções de descarrego ou em períodos de correria sem fim. O nome, A Menina Que Roubava Livros, a historia, CONFISSÕES DE UMA LADRA.

Não me lembro ao certo que ano era, mas me lembro que era época de copa do mundo e eu ainda estava nos primeiros períodos da faculdade. Nunca fui uma devoradora de livros, do tipo que lê compulsivamente, mas naquele tempo eu lia bastante, muito mais que hoje, enfim ...

Eu estava lendo Marnie, um livro do autor inglês Winston Graham, que mais tarde virou filme dirigido por Alfred Hitchcock, um suspense desses clássicos, que me fazia não mais querer largar aquela antiga publicação. Era um livro de uma coleção velha, dessas em que os fascículos são comprados nas bancas de jornal, algo do gênero “o melhor da literatura mundial” e que foram adquiridos pelo meu pai, em algum momento de sua vida, que certamente também não conseguirei identificar. Bom, melhor que esse “causo” continue sem datas exatas, melhor assim.

Naquele dia eu havia acordado indisposta e precisava renovar a matrícula do semestre, para piorar, o jogo do Brasil naquela tarde fazia a cidade andar a “passos lentos” desde as primeiras horas do dia.

“Vamos ao hospital, depois a faculdade e voltamos pra casa a tempo de assistir ao jogo”, minha mãe já havia traçado todo o roteiro. Prevendo que não ia ser nada fácil e que horas de espera seriam inevitáveis, tratei de pegar o livro para levá-lo comigo.

Algumas horas depois, já estavamos em casa, tudo tinha saído como planejado; o resto da família nos aguardava já reunidos na sala, eu estava um pouco melhor e matrículada em todas as cadeiras do próximo semestre. O jogo estava insuportável, mas como não havia mais ninguém que partilhasse dessa opinião, corri para pegar o livro, eu estava em um capítulo crucial, quando Marnie é finalmente desmascarada, era apenas uma questão de trocar a tediosa partida, por momentos de diversão infinita. Procura no carro, no quarto, na casa toda e...

“Aaaaaaaaaaaa, o livro sumiu!!!”

Foram meses pensando como acabava aquela história, e muitos outros sem conseguir ler nenhuma outra. Fui até a Biblioteca Pública, havia vários volumes de Marnie, cheguei a pegar um, mas não consegui ler, não era a mesma coisa, e eu simplesmente devolvi sem nem mesmo folhear as páginas. Dois anos mais tarde...

Vou descendo as escadas da faculdade em direção ao xerox, era tarde da noite, intervalo da aula, eu já havia tentado fazer aquela cadeira por 2 vezes, mas sempre desistia. Dessa vez eu estava disposta a terminar.

No xerox uma pequena fila, encostada no canto da sala uma escrivaninha sem uso, resolvi me sentar lá para separar as apostilas que eu precisava, foi quando, de relance passei o olho pela escrivaninha e no lugar onde deveria haver uma gaveta...

“Meuuuuuuuuuuuuuuuuuu livroooooooo!!!”

Eu mal podia acreditar, meu coração queria sair pela boca, e no mesmo instante concluí que havia esquecido ele na hora da matrícula, concluí também que o gosto literário dos funcionários da faculdade não devia ser dos melhores, afinal, um livro tão bom ter durado ali por tanto tempo era a prova de que não conseguiam reconhecer “o melhor da literatura mundial” a poucos centímetros de distância. De qualquer maneira, eu estava decidida a recuperar aquilo que me pertencia.

Cheguei a pensar na hipótese de comunicar que o livro era meu e contar todo o caso, mas quem acreditaria? Poderiam ainda argumentar que existem milhões de livros iguais e que a possibilidade de aquele ser exatamente o meu era muito pequena, então, eu desisti. Enfim só me restava uma alternativa, roubar meu próprio livro!

Eu me sentia a verdadeira Marnie, a ladra sem coração, era como se a minha história com aquele livro de alguma forma também tivesse se transformado em um grande suspense. A fila do xerox diminuía e eu precisava de um plano mirabolante e rápido.

Comecei a inclinar o corpo e lentamente fui abaixando até que eu conseguí pegar o livro, sem chamar atenção de ninguém. Coloquei embaixo da blusa, a mão suava frio, a bolsa foi de encontro ao corpo para firmar e disfarçar o volume quadrado.

As cenas seguintes foram, todas as apostilas jogadas em cima do rapaz do xerox, uma louca correndo pela faculdade, os olhos esbugalhados, o coração acelerado...

“Será que alguém viu que eu peguei? Tomara que não, tomara que não tenham visto!!!”

Corri até o carro, e como um bom tempo já havia se passado eu já tinha até tirado carteira. Abri a porta e pronto, escondi o livro embaixo do banco. Com um discurso pronto na cabeça caso fosse acusada por roubo é uma vontade enorme de voltar para casa para ler o tão esperado final, recomposta voltei ao xerox.

“Apostila de Estética II, por favor”.

De volta a cena do crime, Marnie sorri o mais cínico dos sorrisos, a alma lavada e uma grande sensação de vitória. Isso me faz lembrar um sujeito que passou anos querendo saber o final de Jennifer 8, eu realmente me solidarizo com esse tipo de problema...

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