domingo, 10 de dezembro de 2006

NE QUITTE PAS; fragmentos de uma carta!

Pela primeira vez ouvi “ne quitte pas”, achava que era expressão antiga, que nem se usava mais, só em canções já desgastadas, e soa tão bela e poética na voz de qualquer francês, que eu não desliguei! Enquanto ouvia a mensagem que anunciava os serviços oferecidos “du Centre Hospitalier René Dubos” lembrei-me de Edith Piaf e do quanto detestava essa música, agora não a detesto, mas não sou capaz de adorá-la, isso já seria demais. Acho que o problema está no me, “ne me quitte pas” perde o ar blasé e cai na dor de cotovelo, sem dúvida de todas as músicas dela prefiro L'accordéoniste, me lembra parque de diversão e carrossel, pulinhos que terminam com a batida dos dois tornozelos, uma coisa meio Charles Chaplin, não sei porque não gosto dele, mas dos saltinhos eu gosto!
Viu só, aprendi a tirar proveito de tudo, mesmo quando esse “tudo” parece não ter nada de bom, tem the catcher in the rye, I’m the catcher in the “she it”, aprendi também a escrever palavrão de maneira subliminar. Chego a crer que o passar do tempo aprimorou ainda mais minha vocação para besteiras e inutilidades, de qualquer maneira, acho que carrossel é invenção francesa, deve ser.

Fiquei um tempo pensando como algumas expressões e palavras mesmo àquelas mais simples e cotidianas são tão boas de ouvir, é o encanto de conseguir separar mesmo que por alguns instantes significante e significado e aproveitar o som harmônico de um barulho sem sentido. É por isso que a língua francesa me encanta tanto, o som harmonioso da palavra é tão importante quanto seu significado, e eles alteram sem dó a gramática, tudo em prol de uma língua bem falada. É a prova factual da máxima “para toda regra sempre há uma exceção”, e no francês para cada regra há sempre milhões de exceções.
Do inglês, atualmente impagável tem sido “Shame on you” falado pausadamente, saboreando cada sílaba pronunciada. Palavrão também tem que ser assim, se não for pausado não tem graça nenhuma, mas ultimamente só tenho falado palavrão em francês, “mer de roses” é meu preferido, inspirado no acento grave e perfeito do Jean Reno, nesse caso o ideal é falar bem rápido. Descobri por acaso que o nome verdadeiro dele é Juan Moreno y Jederique Jiménez, perdi um pouco o encanto, mas só um pouquinho!


A verdade, é que toda a raiva da gramática francesa e a frustração que sinto durante os estudos vira pura sublimação ao ouvir francês com acentuação perfeita. Pode até ser que eu esteja utilizando sublimação de forma errada na minha sentença, prática muito comum desta "minha pessoa". Não me importo mais, agora eu sou a favor do bom som e da harmonia das palavras, e que se danem os seus sentidos.

Se interurbano não fosse tão caro acho que por vezes ligaria e inventaria internações só para ficar escutando “ne quitte pas” na voz cotidiana de um cidadão francês, eu não sou mesmo muito apegada ao politicamente correto e recorreria com facilidade a qualquer artifício que me trouxesse esse tipo de prazer bobo de adulto que não cresceu!

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